Nesse meu livro, sobre Tragédias e passamentos da
história de Santa Rita, encontramos o falecimento em 1904 da senhora ANNA
CÂNDIDA RIBEIRO, nascida e Baependí, em 1840. Da Senhora FRANCISCA RIBEIRO
PALMA, em 1913, com 47 anos de idade e ainda da Senhora Mariana Carlina de
Azevedo, que proveio Eduardo Lousada Rocha, filho de José Avelino Rocha e D.
Amélia Lousada Rocha e neto de José Garcia da Rocha e de D. Rita Cândida
Ribeiro, filha mais nova de Ignácio Ribeiro, o fundador de Santa Rita do Passa
Quatro.
Em sua modesta
contribuição para história de Santa Rita do Passa Quatro, afirma que, um longo
acervo de recordações é o alivio para o peso dos anos. Seus parentes, receosos
de os levasse consigo lho insistiram que deixasse escrito. E dessa insistência
nasceu um trabalho sem pretensão alguma um modesto trabalho para a história de
sua terra, que gostava muito de afirmar. Juntou recordações de seu pai, nascido
em 1864 e falecido em 1931, em São Vicente, no litoral paulista. Era possuidor
de invejável memória e, apaixonado amante de nossa terra.
A tradição oral,
juntaram-se o que consta de livro de Vitor Ribeiro, publicado em 1930, aos 75
anos de idade, de onde foi colhido importantes informações desde 1850. Sem
dúvida um importante documento que por volta de 1910, foi ditado pelo filho
mais moço de Ignácio Ribeiro, Antonio Carlos Ribeiro, a seu filho Carlos
Ribeiro (Caito); e, os que lhe foram passados pelo Arquivo Municipal da Cidade.
(?)
No ano de 1947, Dr.
Lousada, em viagem à região de Pouso Alegre, teve oportunidade de desfazer
equívoco ligado à fundação de Santa Rita. Teria ela resultado da Revolução
Liberal de 1842, quando uma suposta Brigada do Sul teria assinado, na Capela de
Santa Rita do Vintém atual Santa Rita do Sapucaí, tratado de rendição com um
enviado de Caxias. Aos anistiados, foi imposta aos vencidos sua retirada da
região. Alguns deles teriam vindo para o então chamado “Sertão de São Paulo”,
chegando até as barrancas do Rio Mogi-Guassú e aí fundado o primeiro povoado.
Não houve Brigada do Sul e não houve qualquer tratado de rendição. Como adiante
veremos, os fundadores haviam chegado cinco anos antes e não saíram de Pouso
Alegre por motivos políticos. provavelmente possui algum parentesco.
OS PIONEIROS
José Vieira da
Fonseca, residente na cidade mineira de Pouso Alegre, havia decidido colocar
membros de sua numerosa família no então chamado “Sertão de São Paulo”,
desafogando terras que possuía em Pouso Alegre. Senhor de numerosa família e
sólidos acervos, enviou mensageiros que adquiriram de um padre a “Fazenda
Quatro Córregos”, em terras de Casa Branca, e ao velho mulato João Pereira de
Barros as extensas terras que tinham sido a sesmaria do Bebedouro.
No ano de 1837,
passadas as águas, as comitivas partiram de Pouso Alegre. Enquanto José Vieira
da Fonseca passava a residir na Fazenda de Casa Branca, possivelmente no
propósito de ficar a meio caminho entre seus descendentes que ficavam e aqueles
que saíam, três genros seus, os irmãos Julião Ribeiro Salgado, Luiz Ribeiro do
Valle e Ignácio Ribeiro do Valle, vieram instalar-se em terras do Bebedouro.
Julião ficou na
confluência dos três córregos Prata, Sucuri e das Pedras, formadores do
Bebedouro. Luiz instalou-se no lugar chamado Capão do Sobrado e Ignácio na
Fazenda Córrego Alto, vizinha do espigão divisório entre Bebedouro ao norte e o
Rio Claro, outro afluente do Mogi- Guassú, ao sul.
Mais tarde vieram
dois outros genros de José Vieira da Fonseca, Antonio Manoel de Palma e
Francisco Ferreira da Rocha, que se instalaram na Fazenda das Pombas.
Em 1839, por
influência de amigos da família Ribeiro, Francisco de Paula Louzada, procedente
da cidade mineira de Campanha, vinha instalar-se em terras do Rio Claro, onde
abriu fazenda.
Dois netos de José
Vieira da Fonseca, os irmãos José e Joaquim Vieira da Fonseca vieram, por esse
tempo também para terras do Bebedouro, fixando-se respectivamente nos lugares
Água Parada e Beberdorzinho.
Em 1841, dois anos
depois de sua chegada ao Rio Claro, Francisco de Paula Louzada, casado com
filha de José da Silva Borges, próspero fazendeiro da cidade de Campanha,
trazia para sua companhia o cunhado Francisco da Silva Borges, a quem cedia
suas terras do Rio Claro, mudando-se para o lado norte do espigão, donde viria
a falecer em 1909.
Para o vale do Rio
Claro vieram mais tarde D. Rita Nogueira e família abrindo a Fazenda Santa
Cruz, e as famílias Souza e Alves abrindo a Fazenda Rio Claro de Cima. A região
compreendida pelas fazendas Rio Claro de Baixo, Água Parada e Rio Corrente foi
sendo ocupada por famílias diversas, gente de pouca posse.
Mais tarde, da
região mineira de Ayruoca, vieram os Souza e os Meirelles, chefiados pelo Cel.
Joaquim Victor de Souza Meirelles. Desses troncos se constituíram gerações que
aos poucos formaram nossa cidade.
Não foram muito
tranqüilos os primeiros tempos da região. Atraídos pela fama do lugar por aqui
vieram, como de hábito, aventureiros e indivíduos de péssima conduta,
promotores de ações violentas na solução de certas questões.
No relato que Caito
transmitiu ao Dr. Louzada, seu pai menciona Maneco Barbudo, Mariano e Joaquim
Lourenço, Raimundinho e Prudente.
Na fazenda da Praia
era José Thomaz de Mesquita. Na fazenda Pereira, confluência de duas águas, os
três irmãos Pereira, gente de cor.
Nessa narrativa é
dado especial destaque à tristemente célebre família Teixeira, composta da
viúva Emiliana e dos filhos Cândida, José, João Baptista e Zeferino, mais
conhecido como: os “Botas”.
Mariano e Joaquim
Lourenço foram eliminados por Raimundinho e os demais viviam a se entredevorar.
Nesses relatos
encontramos episódios de violência então comuns. Raimundinho, valente e bom
atirador, trabalhava na abertura de um valo quando viu chegar Zeferino Bota,
seu inimigo irreconciliável. Deixou o serviço e saiu em direção ao capão de
mato próximo. Zeferino previu a tocaia e não quis esperar. Ao atingir o capão
de mato, muito esperto, rolou no arreio e colocou-se atrás do pescoço do
cavalo. O tiro atingiu o cavalo e Zeferino caiu com ele, fingindo-se de morto
para iludir o inimigo. A estratégia funcionou e Raimundinho prosseguiu, certo
de haver atingido Zeferino.
Em outra
oportunidade, estando D. Joaquina Cândida Ribeiro, esposa de Ignácio, em sua
casa do Córrego Alto, ouviu tiros que vinham do lado da serra, na direção da
estrada que conduzia à fazenda de seu genro José Garcia da Rocha. Logo depois
chegou José Teixeira com uma carga de chumbo grosso, pedindo que mandassem
chamar sua irmã Cândida, perita em tratar de chumbada. Ao chegar, a moça pediu
que matassem uma leitoa, deu o sangue de beber ao irmão, e preparou uma mistura
de óleo de mamona, vinagre, sal torrado e suco de hortelã, que foi aplicado no
ferimento com uma pena de galinha. Oito dias depois a vítima, já restabelecida,
regressava a sua residência. Há um certo tom de humorismo nessa passagem. A
familiaridade dos Botas com a violência correspondia a habilidade no tratamento
de suas conseqüências. Essa família Bota era especialmente odiada. Certa noite,
tiveram sua casa cercada por um bando numeroso. A casa foi incendiada e todos
os membros da família eliminados, poupada apenas a velha Emiliana.
A um recado desta,
pedindo a Ignácio Ribeiro uma condução para enterrar os seus mortos em São
Simão (o cemitério consagrado para o qual convergiam os mortos da região),
mandou Ignácio um carro de bois conduzido por escravo e pelo agregado Faustino
do Nascimento.
Ao chegar, Faustino
apresentou pêsames à velha Emiliana e espantado ouviu: “Isso não foi nada, seu
Faustino. Só sinto que o fogo também queimou a gamela* de estimação que me
acompanhava há mais de doze anos.
(* Gamela, vasilha de madeira ou de barro, usada para
lavagens ou para dar comida aos animais domésticos).
Essa chacina
repercutiu e gerou sentimento coletivo de revolta. Receosos, os bandidos da
terra foram-se retirando pouco a pouco e Raimundinho não sobreviveu por muito
tempo, eliminado por uma escolta às margens do Rio Tietê. Com a saída deles a
região passou a viver mais tranqüilamente.
Enquanto Ignácio
Ribeiro residiu em Santa Rita, elegendo a povoação por sua morada definitiva,
seus irmãos Julião Ribeiro Salgado e Luiz Ribeiro do Valle aqui não
permaneceram.
Um parente do Dr.
Louzada, José Fernando Ribeiro de Barros, estudioso da genealogia dos Ribeiros
e Rochas, informou que Julião Ribeiro Salgado transferiu-se para o sertão de
Fartura. Viúvo da filha de José Vieira da Fonseca casou-se sucessivamente com
duas irmãs, suas primas, deixando numerosa descendência. É bem possível que ele
ou algum de seus filhos tenha sido o fundador de Ribeirópolis, logo adiante da
divisa de São Paulo com o Paraná.
Quanto a Luiz
Ribeiro do Valle, tudo indica ter-se transferido para terras de São Simão e
Santa Rosa. Vendendo a seu irmão Ignácio a fazenda do Sobrado, transferindo
para lá seu genro José Garcia da Rocha.
Ignácio Ribeiro, que
havia retirado o Valle de seu nome e assim passava simplesmente assinar-se,
radicou-se na povoação onde, já Vila, veio a falecer em 1867, dedicando a vida
ao lugar que adotara como sua terra. Essa dedicação valeu-lhe o cognome de “O Fundador”.
Enquanto Francisco
de Paula Louzada e os habitantes do vale do Rio Claro seguiam a tradição
mineira da pecuária, Ignácio Ribeiro, na profética antevisão do que viria
representar o café na economia de São Paulo, passou todo o tempo, assessorado
pelos filhos mais velhos, a formar e estender seus cafezais.
Por morte do pai,
seu primogênito Francisco Deocleciano Ribeiro assumiu a direção da família e
prosseguiu na lida dos cafezais, pelos terrenos acidentados de norte a leste,
levando as plantações da família até as terras que se aproximavam do atual
município de Santa Cruz das Palmeiras. Ao falecer, em abril de 1887, aos 55
anos de idade, só na Fazenda Passa Quatro deixava quatrocentos mil cafeeiros.
Já Francisco Ribeiro
foi o pioneiro da instrução pública de Santa Rita. Fez construir a “Casa de
Instrução” no canto das atuais ruas Francisco Ribeiro e Victor Meirelles e
trouxe de outra localidade o primeiro professor público Antonio Gonçalves
Leite. Nesse prédio, reformado ou reconstruído, funcionou posteriormente a
Câmara Municipal, mais tarde transferida para o segundo andar do novo prédio do
Paço Municipal. Mais tarde, por volta de 1960, este local abrigou a sede da
Companhia Telefônica Santa Rita.
Criado em Santa Rita
seu primeiro Grupo Escolar, a ele foi dado seu nome. Após sucessivas
denominações conseqüentes as reformas do ensino, é hoje a Escola Estadual
“Francisco Ribeiro”.
UM DESASTRE CHAMADO FARTURA
Merece referência um
episódio de larga repercussão no desenvolvimento de Santa Rita do Passa Quatro.
Francisco Ribeiro, ao falecer em 1887, deixou vultuoso espólio.
Incompreensivelmente foi ele dividido em quinhões dispostos ao acaso, ficando
seus herdeiros proprietários de lotes que não se confinavam e gerando uma série
de transmissões que importaram no que se poderia chamar de uma liquidação de
herança.
Tal fato a muitos
deles obrigou a novos rumos e à abertura de uma nova região. A escolha caiu no
então chamado “Sertão de Fartura”, onde foram adquiridas extensas áreas e nelas
plantados cafezais. À total falta de braços, ao isolamento resultante da
distância de muitos quilômetros até Piraju, o centro mais próximo, e
principalmente à hostilidade do clima, devem-se os sucessivos desastres
financeiros. Muitos membros da família Ribeiro tiveram que voltar à estaca
zero. Um deles foi o pai do Dr. Louzada, que ali havia adquirido com a herança
de seu avô, 500 alqueires, iniciando a plantação de extenso cafezal. Numa
madrugada viu tudo destruído pela geada. Foi seu primeiro desastre financeiro.
D. Ana Ribeiro, tia
do pai do Dr. Louzada, viúva de Francisco Ribeiro, costumava exclamar:
“Fartura, mas fartura de miséria!”.
Um dos Ribeiros,
José Deocleciano Ribeiro, o Zéca Ribeiro, venceu pela persistência e teimosia.
Depois de muita penúria, conseguiu ali montar uma farmácia, vivendo em apertada
mediania. Dr. Louzada foi conhecê-lo em 1928, já idoso, mas cheio de coragem, e
bom humor. Era o “médico” da região desprovida de profissionais e – eterna
paixão da família – influente chefe político, grande esteio de Ataliba Leonel,
prestigiado dirigente do chamado 5.º Distrito Eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário