domingo, 17 de junho de 2018


Nesse meu livro, sobre Tragédias e passamentos da história de Santa Rita, encontramos o falecimento em 1904 da senhora ANNA CÂNDIDA RIBEIRO, nascida e Baependí, em 1840. Da Senhora FRANCISCA RIBEIRO PALMA, em 1913, com 47 anos de idade e ainda da Senhora Mariana Carlina de Azevedo, que proveio Eduardo Lousada Rocha, filho de José Avelino Rocha e D. Amélia Lousada Rocha e neto de José Garcia da Rocha e de D. Rita Cândida Ribeiro, filha mais nova de Ignácio Ribeiro, o fundador de Santa Rita do Passa Quatro.
  Em sua modesta contribuição para história de Santa Rita do Passa Quatro, afirma que, um longo acervo de recordações é o alivio para o peso dos anos. Seus parentes, receosos de os levasse consigo lho insistiram que deixasse escrito. E dessa insistência nasceu um trabalho sem pretensão alguma um modesto trabalho para a história de sua terra, que gostava muito de afirmar. Juntou recordações de seu pai, nascido em 1864 e falecido em 1931, em São Vicente, no litoral paulista. Era possuidor de invejável memória e, apaixonado amante de nossa terra.
  A tradição oral, juntaram-se o que consta de livro de Vitor Ribeiro, publicado em 1930, aos 75 anos de idade, de onde foi colhido importantes informações desde 1850. Sem dúvida um importante documento que por volta de 1910, foi ditado pelo filho mais moço de Ignácio Ribeiro, Antonio Carlos Ribeiro, a seu filho Carlos Ribeiro (Caito); e, os que lhe foram passados pelo Arquivo Municipal da Cidade. (?)
  No ano de 1947, Dr. Lousada, em viagem à região de Pouso Alegre, teve oportunidade de desfazer equívoco ligado à fundação de Santa Rita. Teria ela resultado da Revolução Liberal de 1842, quando uma suposta Brigada do Sul teria assinado, na Capela de Santa Rita do Vintém atual Santa Rita do Sapucaí, tratado de rendição com um enviado de Caxias. Aos anistiados, foi imposta aos vencidos sua retirada da região. Alguns deles teriam vindo para o então chamado “Sertão de São Paulo”, chegando até as barrancas do Rio Mogi-Guassú e aí fundado o primeiro povoado. Não houve Brigada do Sul e não houve qualquer tratado de rendição. Como adiante veremos, os fundadores haviam chegado cinco anos antes e não saíram de Pouso Alegre por motivos políticos. provavelmente possui algum parentesco.
OS PIONEIROS
  José Vieira da Fonseca, residente na cidade mineira de Pouso Alegre, havia decidido colocar membros de sua numerosa família no então chamado “Sertão de São Paulo”, desafogando terras que possuía em Pouso Alegre. Senhor de numerosa família e sólidos acervos, enviou mensageiros que adquiriram de um padre a “Fazenda Quatro Córregos”, em terras de Casa Branca, e ao velho mulato João Pereira de Barros as extensas terras que tinham sido a sesmaria do Bebedouro.
  No ano de 1837, passadas as águas, as comitivas partiram de Pouso Alegre. Enquanto José Vieira da Fonseca passava a residir na Fazenda de Casa Branca, possivelmente no propósito de ficar a meio caminho entre seus descendentes que ficavam e aqueles que saíam, três genros seus, os irmãos Julião Ribeiro Salgado, Luiz Ribeiro do Valle e Ignácio Ribeiro do Valle, vieram instalar-se em terras do Bebedouro.
  Julião ficou na confluência dos três córregos Prata, Sucuri e das Pedras, formadores do Bebedouro. Luiz instalou-se no lugar chamado Capão do Sobrado e Ignácio na Fazenda Córrego Alto, vizinha do espigão divisório entre Bebedouro ao norte e o Rio Claro, outro afluente do Mogi- Guassú, ao sul.  
  Mais tarde vieram dois outros genros de José Vieira da Fonseca, Antonio Manoel de Palma e Francisco Ferreira da Rocha, que se instalaram na Fazenda das Pombas.
  Em 1839, por influência de amigos da família Ribeiro, Francisco de Paula Louzada, procedente da cidade mineira de Campanha, vinha instalar-se em terras do Rio Claro, onde abriu fazenda.
  Dois netos de José Vieira da Fonseca, os irmãos José e Joaquim Vieira da Fonseca vieram, por esse tempo também para terras do Bebedouro, fixando-se respectivamente nos lugares Água Parada e Beberdorzinho.
  Em 1841, dois anos depois de sua chegada ao Rio Claro, Francisco de Paula Louzada, casado com filha de José da Silva Borges, próspero fazendeiro da cidade de Campanha, trazia para sua companhia o cunhado Francisco da Silva Borges, a quem cedia suas terras do Rio Claro, mudando-se para o lado norte do espigão, donde viria a falecer em 1909.
  Para o vale do Rio Claro vieram mais tarde D. Rita Nogueira e família abrindo a Fazenda Santa Cruz, e as famílias Souza e Alves abrindo a Fazenda Rio Claro de Cima. A região compreendida pelas fazendas Rio Claro de Baixo, Água Parada e Rio Corrente foi sendo ocupada por famílias diversas, gente de pouca posse.
  Mais tarde, da região mineira de Ayruoca, vieram os Souza e os Meirelles, chefiados pelo Cel. Joaquim Victor de Souza Meirelles. Desses troncos se constituíram gerações que aos poucos formaram nossa cidade.
 Não foram muito tranqüilos os primeiros tempos da região. Atraídos pela fama do lugar por aqui vieram, como de hábito, aventureiros e indivíduos de péssima conduta, promotores de ações violentas na solução de certas questões.
  No relato que Caito transmitiu ao Dr. Louzada, seu pai menciona Maneco Barbudo, Mariano e Joaquim Lourenço, Raimundinho e Prudente.
  Na fazenda da Praia era José Thomaz de Mesquita. Na fazenda Pereira, confluência de duas águas, os três irmãos Pereira, gente de cor.
  Nessa narrativa é dado especial destaque à tristemente célebre família Teixeira, composta da viúva Emiliana e dos filhos Cândida, José, João Baptista e Zeferino, mais conhecido como: os “Botas”.
  Mariano e Joaquim Lourenço foram eliminados por Raimundinho e os demais viviam a se entredevorar.
  Nesses relatos encontramos episódios de violência então comuns. Raimundinho, valente e bom atirador, trabalhava na abertura de um valo quando viu chegar Zeferino Bota, seu inimigo irreconciliável. Deixou o serviço e saiu em direção ao capão de mato próximo. Zeferino previu a tocaia e não quis esperar. Ao atingir o capão de mato, muito esperto, rolou no arreio e colocou-se atrás do pescoço do cavalo. O tiro atingiu o cavalo e Zeferino caiu com ele, fingindo-se de morto para iludir o inimigo. A estratégia funcionou e Raimundinho prosseguiu, certo de haver atingido Zeferino.
  Em outra oportunidade, estando D. Joaquina Cândida Ribeiro, esposa de Ignácio, em sua casa do Córrego Alto, ouviu tiros que vinham do lado da serra, na direção da estrada que conduzia à fazenda de seu genro José Garcia da Rocha. Logo depois chegou José Teixeira com uma carga de chumbo grosso, pedindo que mandassem chamar sua irmã Cândida, perita em tratar de chumbada. Ao chegar, a moça pediu que matassem uma leitoa, deu o sangue de beber ao irmão, e preparou uma mistura de óleo de mamona, vinagre, sal torrado e suco de hortelã, que foi aplicado no ferimento com uma pena de galinha. Oito dias depois a vítima, já restabelecida, regressava a sua residência. Há um certo tom de humorismo nessa passagem. A familiaridade dos Botas com a violência correspondia a habilidade no tratamento de suas conseqüências. Essa família Bota era especialmente odiada. Certa noite, tiveram sua casa cercada por um bando numeroso. A casa foi incendiada e todos os membros da família eliminados, poupada apenas a velha Emiliana.
  A um recado desta, pedindo a Ignácio Ribeiro uma condução para enterrar os seus mortos em São Simão (o cemitério consagrado para o qual convergiam os mortos da região), mandou Ignácio um carro de bois conduzido por escravo e pelo agregado Faustino do Nascimento.
  Ao chegar, Faustino apresentou pêsames à velha Emiliana e espantado ouviu: “Isso não foi nada, seu Faustino. Só sinto que o fogo também queimou a gamela* de estimação que me acompanhava há mais de doze anos.
(* Gamela, vasilha de madeira ou de barro, usada para lavagens ou para dar comida aos animais domésticos).
  Essa chacina repercutiu e gerou sentimento coletivo de revolta. Receosos, os bandidos da terra foram-se retirando pouco a pouco e Raimundinho não sobreviveu por muito tempo, eliminado por uma escolta às margens do Rio Tietê. Com a saída deles a região passou a viver mais tranqüilamente.
  Enquanto Ignácio Ribeiro residiu em Santa Rita, elegendo a povoação por sua morada definitiva, seus irmãos Julião Ribeiro Salgado e Luiz Ribeiro do Valle aqui não permaneceram.
  Um parente do Dr. Louzada, José Fernando Ribeiro de Barros, estudioso da genealogia dos Ribeiros e Rochas, informou que Julião Ribeiro Salgado transferiu-se para o sertão de Fartura. Viúvo da filha de José Vieira da Fonseca casou-se sucessivamente com duas irmãs, suas primas, deixando numerosa descendência. É bem possível que ele ou algum de seus filhos tenha sido o fundador de Ribeirópolis, logo adiante da divisa de São Paulo com o Paraná.  
  Quanto a Luiz Ribeiro do Valle, tudo indica ter-se transferido para terras de São Simão e Santa Rosa. Vendendo a seu irmão Ignácio a fazenda do Sobrado, transferindo para lá seu genro José Garcia da Rocha.
  Ignácio Ribeiro, que havia retirado o Valle de seu nome e assim passava simplesmente assinar-se, radicou-se na povoação onde, já Vila, veio a falecer em 1867, dedicando a vida ao lugar que adotara como sua terra. Essa dedicação valeu-lhe o cognome de “O Fundador”.
  Enquanto Francisco de Paula Louzada e os habitantes do vale do Rio Claro seguiam a tradição mineira da pecuária, Ignácio Ribeiro, na profética antevisão do que viria representar o café na economia de São Paulo, passou todo o tempo, assessorado pelos filhos mais velhos, a formar e estender seus cafezais. 
  Por morte do pai, seu primogênito Francisco Deocleciano Ribeiro assumiu a direção da família e prosseguiu na lida dos cafezais, pelos terrenos acidentados de norte a leste, levando as plantações da família até as terras que se aproximavam do atual município de Santa Cruz das Palmeiras. Ao falecer, em abril de 1887, aos 55 anos de idade, só na Fazenda Passa Quatro deixava quatrocentos mil cafeeiros.
  Já Francisco Ribeiro foi o pioneiro da instrução pública de Santa Rita. Fez construir a “Casa de Instrução” no canto das atuais ruas Francisco Ribeiro e Victor Meirelles e trouxe de outra localidade o primeiro professor público Antonio Gonçalves Leite. Nesse prédio, reformado ou reconstruído, funcionou posteriormente a Câmara Municipal, mais tarde transferida para o segundo andar do novo prédio do Paço Municipal. Mais tarde, por volta de 1960, este local abrigou a sede da Companhia Telefônica Santa Rita.
  Criado em Santa Rita seu primeiro Grupo Escolar, a ele foi dado seu nome. Após sucessivas denominações conseqüentes as reformas do ensino, é hoje a Escola Estadual “Francisco Ribeiro”.
UM DESASTRE CHAMADO FARTURA
  Merece referência um episódio de larga repercussão no desenvolvimento de Santa Rita do Passa Quatro. Francisco Ribeiro, ao falecer em 1887, deixou vultuoso espólio. Incompreensivelmente foi ele dividido em quinhões dispostos ao acaso, ficando seus herdeiros proprietários de lotes que não se confinavam e gerando uma série de transmissões que importaram no que se poderia chamar de uma liquidação de herança.
  Tal fato a muitos deles obrigou a novos rumos e à abertura de uma nova região. A escolha caiu no então chamado “Sertão de Fartura”, onde foram adquiridas extensas áreas e nelas plantados cafezais. À total falta de braços, ao isolamento resultante da distância de muitos quilômetros até Piraju, o centro mais próximo, e principalmente à hostilidade do clima, devem-se os sucessivos desastres financeiros. Muitos membros da família Ribeiro tiveram que voltar à estaca zero. Um deles foi o pai do Dr. Louzada, que ali havia adquirido com a herança de seu avô, 500 alqueires, iniciando a plantação de extenso cafezal. Numa madrugada viu tudo destruído pela geada. Foi seu primeiro desastre financeiro.
  D. Ana Ribeiro, tia do pai do Dr. Louzada, viúva de Francisco Ribeiro, costumava exclamar: “Fartura, mas fartura de miséria!”.
  Um dos Ribeiros, José Deocleciano Ribeiro, o Zéca Ribeiro, venceu pela persistência e teimosia. Depois de muita penúria, conseguiu ali montar uma farmácia, vivendo em apertada mediania. Dr. Louzada foi conhecê-lo em 1928, já idoso, mas cheio de coragem, e bom humor. Era o “médico” da região desprovida de profissionais e – eterna paixão da família – influente chefe político, grande esteio de Ataliba Leonel, prestigiado dirigente do chamado 5.º Distrito Eleitoral.

 
  

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