Saci (casa do biso Ignácio na Barra Seca)
Quando a pessoa escuta um assovio de Saci, já reconhece na hora, mesmo que nunca tenha escutado. Dizem que dá um arrepio de medo, dos pés à cabeça. Também dizem que ele mora em bambuzais que ficam em serras e perto de água. Acreditavam que ele gosta de fazer travessuras e confusão. Sempre que ele está por perto há uma briga de casal ou de vizinhos. Hoje em dia não se ouve mais falar que ele apareceu, acho que é porque existem poucos bambuzais ou estamos rezando mais.
Meu pai conta que quando o sítio ainda não havia sido dividido, quando ainda era tudo dos bisavós Ignácio e Joaquina Ribeiro Palma, a estrada principal , a que vem de Fartura tinha um caminho diferente. Do cruzeiro para baixo, a estrada vinha fazendo um traçado mais suave, para não correr muito enxurrada. Era enviesada e passava bem na frente do sítio do bisavô, na porta da sala (hoje é onde tem um pé de jabuticaba e outro de ipê, no sítio do Mário) e saia no sitio da tia Nica, perto da atual capela e continuava até a fazenda do Pio Blanco e terras dos Bento de Castro.
E o Saci toda noite descia a estrada assoviando. O bisavô, assim como todos do bairro, faziam açúcar, polvilho de mandioca, farinha de milho. Precisavam ser autossuficientes pois na cidade era muito caro. Um dia, o Saci assoviou bem perto da casa e o bisavô falou: Saci vai lá no engenho tomar mel de açúcar. Para quem não sabe, quando faziam o açúcar, depois que o melado estava bem apurado, ele virava açúcar; então deixavam esfriar, colocavam em cestos feitos de bambu bem forrados com folhas de bananeira, enchiam esses cestos com o açúcar, cobriam com as folhas de banana, e colocavam peso em cima, que podia ser pedras ou terra. Embaixo dos jacás ficava um cocho feito de tora de madeira, onde o mel do açúcar escorria. Era feito assim para o açúcar ficar sem umidade, bem solto. E esse mel não era aproveitado para consumo, era dado para os porcos.
Então quando o bisavô mandou o Saci tomar mel de açúcar, ele foi. O engenho ficava bem perto da atual casa do tio Fernando e tia Ceiça. E contava que ele gostou e ficou folgado! Começou a aprontar traquinagens....galopava a noite inteira nos cavalos e trançava as crinas. Os cavalos amanheciam cansados. O bisavô cansou daquilo e mandou colocar uma cruz perto do engenho. Só assim ele foi embora!
E a estrada principal mudou de lugar quando o sítio foi dividido, foi colocada na divisa entre os sítios da minha mãe Luiza e do tio Pedro Palma; é o traçado que tem hoje.
(estória contada por Mário Vieira Palma)
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