terça-feira, 17 de agosto de 2021

                  Fogo Fátuo? (Barra Seca)

O tio Pedro Ribeiro Palma recebeu por herança uma gleba num dos lugares mais bonitos do bairro. Ficava à esquerda de quem vem de Fartura, divisando no alto com o bairro Pinheirinho e descendo até o pé da colina, onde haviam muitas minas d’água e ribeirões.
Para chegar lá, a estrada era muito pedregosa e as casas ficavam uma longe da outra e já no caminho dava medo. Antes da casa do Cido e da Lola Garcia, no meio da estrada tinha uma pedra bem grande, que a máquina de terraplanagem não conseguiu quebrar, e sempre quando os mais jovens passavam por ali viam luzes e barulhos. Eles acreditavam que tinha um tesouro enterrado ali. Essa crença de tesouros enterrados no nosso bairro era devido ao fato que quando houve a revolução de 1932 e os gaúchos, que estavam do lado do governo federal, vieram lutar contra os paulistas que queriam a Constituição, passaram por aqui, pelo rio Itararé, vindos do Paraná. Então as pessoas que tinham dinheiro, moedas e joias as enterravam com medo de serem saqueadas pelos gaúchos. E diziam que quando se enterra ouro, ele fica encantado, e só pode ser recuperado depois que quem enterrou morre e vem contar para um vivo o lugar exato.
Continuando a estória do tio Pedro: seus filhos já estavam adultos e ele já havia dividido o sítio com seus filhos. Os casados já tinham construído suas casas e a sede do sítio era onde depois ficou para o Pedro Bento e Lurdes. Tio Pedro morava ali com a filha Lurdes e o genro Pedro Bento.
Numa manhã ele foi calçar a botina e levou uma picada de aranha. Ela estava dentro da botina e ele não percebeu. O veneno foi tão forte que, minutos depois, ele desmaiou. Chamaram um dos filhos que veio com a charrete e foi levá-lo para o hospital em Fartura.
Chegando lá, foi medicado e o médico recomendou repouso de 40 dias. Mas no começo foi difícil, ele tinha febre e muita dor no pé. E os filhos e netos sempre iam visitá-lo. A Elza já era casada com o Antonio e já tinha seu filho Walter, que tinha uns cinco anos, e iam lá também.
Eles ficavam lá até tarde da noite. E conversavam na varanda. Uma noite repararam que num lugar mais alto, no meio da colina, um pouco antes da casa do Oliveiro e da tia Belica (moravam lá ainda), saia uma bola de fogo dum pé de roseira e subia até o alto e apagava. E era acompanhado por assovios. E os assovios eram altos e desciam até perto da casa do tio. Pareciam que era humano, alguém assoviando para chamar a atenção. E de repente, a bola de fogo saia de novo e subia até o alto.
Um dia a tia Belica foi até o lugar e rezou um terço, mas a noite começou tudo de novo.
Foram dias. O tio Pedro só ficou bom depois de uns quinze dias. Era muito corajoso, então numa noite quando começou o fenômeno ele foi até a roseira e falou: se você for alma penada apareça para mim! Fala o que você quer e eu cumpro. Quer que eu mande rezar uma missa para sua alma?
Não obteve resposta mas os assovios e a luz desapareceram e o tio Pedro quando foi à cidade pediu para o padre celebrar uma missa para as almas do purgatório, especialmente para os falecidos do bairro!
(estória contada por Elza Ribeiro)

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