sábado, 27 de outubro de 2018

AS PERSEGUIÇÕES POLÍTICAS E O PRECONCEITO SOCIAL
A resultante das perseguições políticas levadas a efeito através do personagem ‘Sete Orelhas’, ou Januário Garcia (Leal), foi a difusão de preconceito entre as famílias antes unidas pelo nome Garcia. Foi assim que surgiu o preconceito social entre as famílias originárias da ilha do Faial, descendentes de patriarcas que assinavam o nome Garcia, homens que foram colonos do Brasil no século XVIII.
Com a continuação das perseguições, uma vez extinto o elo que antes unia aquele grupo de famílias formadas a partir de colonos que assinavam o nome Garcia, aquelas famílias passaram a não mais se reconhecer como pertencente a um mesmo grupo, a um mesmo povo, a uma mesma raça. Em conseqüência disso, surgiram variadas antipatias entre as famílias, ora por poder, ora por humor, do que resultou num preconceito generalizado entre as famílias antes unidas pelo nome de família Garcia.
O êxito que vinham obtendo as perseguições políticas surgidas no século XIX foi identificado ainda naquele século pelo escritor Joaquim José de França Júnior. Em 1867, em um folhetim em que criticou o autor da peça de teatro “Januário Garcia, o ‘Sete Orelhas’”, o depois político Martim Francisco Ribeiro de Andrada, França Júnior assim escreveu sobre o que teria pensado o autor da peça ao compor a sua obra: “...resolvi esboçar, não o quadro da miséria de uma família, mas o croquis da desgraça de um povo.”.
A existência deste preconceito generalizado como ainda hoje pode ser observado nas nascentes do rio Grande e em várias outras regiões do centro-sul do Brasil, demonstra a eficiência dos perseguidores no seu intento de acabar com uma raça, com a coesão de um povo.
Esse foi o objetivo das perseguições, em lugar da coesão social existente entre aquele grupo de brasileiros unidos pelo nome patronímico Garcia, deixar em seu lugar o preconceito entre as famílias. E tão exitosos foram os perseguidores que hoje o preconceito social é considerado natural nas cidades espalhadas ao redor do vale do rio Grande.
Esse variado grupo de famílias descendia de cinco colonos que assinavam o nome Garcia e eram originários da ilha do Faial, uma das nove ilhas que compõem o arquipélago dos Açores. Foi por autorização de D. Isabel, condessa de Flandres e irmã de D. Manoel, o Rei de Portugal, que a partir do ano de 1450 a ilha do Faial foi colonizada por flamengos, povo germânico oriundo de Flandres, hoje uma região do norte da Bélgica.
Como se vê, unidos no Brasil Colônia pelo nome de família Garcia, esse povo tinha origem remota em Flandres. O tortuoso caminho que tiveram esses colonos, primeiro partindo de Flandres para a ilha do Faial, até que depois de mais de duzentos anos seus descendentes se fixaram no centro-sul do Brasil Colônia, levou ao enfraquecimento das raízes flamengas. Foi essa a causa do apego ao nome de família Garcia que ocorreu no Brasil Colônia, ou seja, unir aqueles colonos descendentes de flamengos oriundos da ilha do Faial pelo nome de família Garcia, e assim preservar a raiz flamenga, mesmo tendo transcorrido mais de dois séculos desde a colonização da ilha do Faial por flamengos e mesmo tendo transcorrido cem anos desde a colonização do Brasil Colônia por descendentes de flamengos que eram originários da ilha do Faial, no arquipélago dos Açores.
Essa foi a verdadeira causa das perseguições levadas a efeito através do personagem 'Sete Orelhas', ou seja, a extinção da raiz flamenga existente na formação do povo brasileiro. A busca da extinção da raiz flamenga, que permanecia intacta na parte mais rica do Brasil, o centro-sul, encontrava-se dentro de um processo ideológico que não consentia a existência de um grande país no hemisfério sul do planeta - o Brasil - com forte raiz flamenga.
E nesse processo, seduzidos pela bajulação de quem os inspirava, os políticos do Brasil Império, que coordenaram as perseguições no século XIX, acabaram por inserir no seio das famílias antes unidas pelo nome Garcia o horror, a repulsa por vizinhos que tinham a mesma origem, que pertenciam à mesma raça, todos descendentes dos flamengos que haviam colonizado a ilha do Faial, no arquipélago dos Açores, a partir do ano de 1450.

Nenhum comentário:

Postar um comentário