DESCENDENTES DE JOSÉ VIEIRA DA FONSECA E OS RIBEIROS DO VALE (RAMO PAULISTA) Letras coloridas sâo LINKS
sábado, 27 de outubro de 2018
O SETE ORELHAS, OS CARANGUEJOS E OS VEADOS
Nascido na povoação do Jacuí, Minas Gerais, em 1761, filho de Pedro Garcia Leal e neto João Garcia Luis, colonos nascidos nas ilhas dos Açores e falecidos no Brasil, o colono Januário Garcia Leal teve sua memória maculada pelo estudante da Faculdade de Direito de São Paulo de nome Martim Francisco Ribeiro de Andrada.
No ano de 1845, o estudante Martim Francisco Ribeiro de Andrada inseriu o nome de Januário Garcia Leal por duas vezes na peça de teatro de sua autoria intitulada “Januário Garcia, o ‘Sete Orelhas’”. No enredo da peça, por conta do assassinato de seu filho Antônio, Januário Garcia Leal, o personagem "Sete Orelhas", promoveu a morte dos sete assassinos de seu filho, fazendo um colar com sete orelhas retirada dos mortos. Os sete mortos nesta vingança de 'Sete Orelhas' seriam os irmãos 'da Silva'.
A peça fez grande sucesso em sua estreia em 1846, sendo encenada pela primeira vez no teatro da Casa da Ópera, em São Paulo, quando da primeira visita à cidade de S M Imperial D Pedro II. No ano de 1849, em consequência do sucesso alcançado, foram impressas inúmeras cópias desta peça de teatro.
A peça trouxe fama para o personagem ‘Sete Orelhas’ e para os nomes de familia 'Garcia' e 'da Silva'. A partir de então esses nomes de família passaram a ser assombrados pelo comentário de que entre os membros dessas famílias pudessem ter assassinos, sendo que na família Garcia haveria um assassino cruel e vingativo, responsável pela morte de sete pessoas da família 'da Silva'.
O personagem ‘Sete Orelhas’ se insere nas perseguições perpetradas a partir de meados do século XIX. Naquela época, em busca de uma supremacia política, um pequeno grupo de pessoas unidas de maneira discreta, buscou separar as famílias descendentes de colonos de origem flamenga no Brasil. Tratava-se de um grande grupo de famílias que se identificava pelo elo comum, o nome de família Garcia. Esse grupo de famílias se encontravam espalhadas por todo o curso do rio Grande, entre Minas Gerais e São Paulo e se constituía no maior grupo social existente no interior do Brasil. Dentre essas famílias pertencentes à árvore genealógica identificadas a partir do elo comum Garcia estavam as famílias 'Garcia Leal' e 'da Silva', as famílias que tiveram suas reputações difamadas por Martim Francisco Ribeiro de Andrada em 1845,
O então estudante da Faculdade de Direito de São Paulo Martim Francisco Ribeiro de Andrada era filho homônimo do político Martim Francisco Ribeiro de Andrada e sobrinho e neto do político José Bonifácio de Andrada e Silva, ambos então já falecidos.
Ademais, Martim Francisco Ribeiro de Andrada era irmão de José Bonifácio, o Moço, que foi político e professor na Faculdade de Direito de São Paulo. Neste local, ainda hoje se observa no saguão de entrada da escola uma estátua de José Bonifácio, o Moço, o irmão do autor da peça de teatro “Januário Garcia, o ‘Sete Orelhas’”.
Além de José Bonifácio, o Moço, o escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada foi irmão do também político Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Este último, ainda em meados do século XIX, havia deixado sua cidade natal, Santos, passando a residir em Barbacena, Minas Gerais, local onde se casou em 1864 e constituiu família.
Um dos filhos deste irmão de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, nascido em Minas Gerais, também se chamou Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946). Ainda no último quartel do século XIX este primeiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada mineiro se casou em São João Del Rei com Julieta de Araújo Guimarães, uma das filhas de Maria das Dores de Carvalho e Domingos Custódio Guimarães Filho.
Por sua vez, o sogro de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada de nome Domingos Custódio Guimarães Filho era neto de Pedro Custódio Guimarães, de seu casamento com Thereza Maria de Jesus, uma das netas do casal Julia Maria da Caridade e Diogo Garcia, que se casaram em São João Del Rei em 1724.
Casados em 1782, o casal Pedro Custódio Guimarães e Thereza Maria de Jesus é considerado patriarca da família Guimarães, uma das famílias descendentes dos colonos de origem flamenga no Brasil, uma das famílias objeto das perseguições perpetradas a partir do século XIX, que teve seu ápice na obra do dramaturgo Martim Francisco Ribeiro de Andrada, a peça de teatro “Januário Garcia, o ‘Sete Orelhas’”.
E foi assim que as perseguições chegaram na cidade do Turvo, hoje Andrelândia. Então, esta localidade era um centro administrativo nas nascentes do rio Grande, que congregava as povoações hoje conhecidas como Piedade do Rio Grande, Madre Deus de Minas, Minduri, São Vicente de Minas, Arantina, Bom Jardim de Minas e Carrancas.
Portanto, uma vez implantada a separação política na cidade do Turvo esta separação teria o condão de se espalhar pelas povoações circundantes, separando os descendentes dos colonos de origem flamenga no seu ninho, as nascentes do rio Grande.
Pouco depois do casamento de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Julieta de Araújo Guimarães, o processo de separação das famílias descendentes dos colonos de origem flamenga, que marcou a estratégia para criação do personagem Sete Orelhas em 1836, começou nas nascentes do rio Grande.
Ainda no final do século XIX, de inopino tomou força a separação política que iria marcar a política nas nascentes do rio Grande no século XX, a divisão política na cidade do Turvo, com o surgimento dos agrupamentos políticos dos veados e dos caranguejos.
Então, de um lado, estavam os partidários de Antônio Belfort Ribeiro de Arantes, agrupados em um partido político denominado partido dos Caranguejos. De outro lado, estavam os partidários de José Bonifácio de Azevedo, agrupados em um partido político denominado partido dos Veados.
Descendente da família Arantes de Aiuruóca, Antônio Belfort Ribeiro de Arantes nasceu naquela povoação e se casou em 1849 na povoação do Turvo com Libânia Jesuína Carolina de Carvalho, uma bisneta de Catarina de São José. Esta última por sua vez era filha da pioneira Antônia da Graça e sobrinha do casal de pioneiros Júlia Maria da Caridade e Diogo Garcia.
Ademais, Antônio Belfort Ribeiro de Arantes era ligado a S M Imperial D Pedro II, que lhe outorgou o título de Barão e depois de Visconde de Arantes. Como se sabe, S M Imperial D Pedro II era ligado às perseguições, estando presente na cidade de São Paulo quando do lançamento retumbante da peça de teatro “Januário Garcia, o ‘Sete Orelhas’”, escrita por Martim Francisco Ribeiro de Andrada, tio do político mineiro Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.
Descendente dos pioneiros João Garcia Luis e Rosa Maria de Jesus, José Bonifácio de Azevedo nasceu na povoação do Turvo, onde se casou em 1861 com Carlina Umbelina Salgado, unindo assim duas famílias descendentes dos colonos de origem flamenga, as famílias Azevedo e Salgado.
Sempre agindo de maneira dissimulada, em um primeiro momento, em virtude de relações familiares, os partidários do político mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada se uniram ao grupo de José Bonifácio de Azevedo. Porém, no transcorrer do século XX, os políticos vinculados aos Andradas se uniram ora ao partido dos Veados ora ao partido dos Caranguejos.
Esta variação entre os dois lados do espectro político da então influente povoação do Turvo tinha sentido nas perseguições políticas surgidas com o personagem ‘Sete Orelhas’, pois o objetivo destas perseguições era a separação das famílias descendentes dos colonos de origem flamenga no Brasil.
Assim, o caminho das perseguições que buscavam a separação das famílias formadas a partir de pioneiros originários da ilha do Faial migrava do personagem ‘Sete Orelhas’ para a política ‘Caranguejo e Veado’ na povoação do Turvo e nas demais povoações das nascentes do rio Grande.
Na genealogia abaixo, vê-se como ocorreu a entrada das perseguições nas famílias pelo casamento no final do século XIX de uma bisneta do patriarca Pedro Custódio Guimarães com um sobrinho e neto do político José Bonifácio de Andrada e Silva, de nome Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, prefeito indicado de Belo Horizonte (1905-1906), ministro da fazenda (1917-1918) e presidente (governador) do Estado de Minas Gerais entre 1926 e 1930
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