quarta-feira, 9 de julho de 2025

 Saga de uma familia Judia 

 

Em 1492 , os reis católicos Fernando e Isabel expulsaram os judeus da Espanha. O rei de Portugal, D. João II , permitiu que eles entrassem em Portugal mediante o pagamento de 8 cruzados por pessoa, mas deveriam deixar o pais na prazo de 8 messes, como nem todos tinham condições financeiras para isso, a grande maioria continuou no pais.

Em 1493, D. João ordenou que os judeus, que até então não haviam imigrado, deveriam ser vendidos como escravos e entre eles estava Abgail Curriel, uma mocinha apelidada de Pucarinha  comprada como escrava por D. Gerônimo de Saldanhã e Bovadilha nobre espanhol residente em Portugal. D. Gerônimo teve com a escrava dois filhos naturais Fernando Nunes e Duarte Nunes de Coimbra, que em 1497 foram batizados á força junto da mãe e outros ilhares de judeus sefarditas, passando a fazer parte dos cristãos novos, nova classe social-religiosa que assim se diferenciava dos cristãos velhos, já de antiga ascendência cristã.

Fernando Nunes retornou ao judaísmo, emigrou para a Turquia e, em 1560, já bem velho, era medico na corte do sultão.

Duarte Nunes, aparentemente católico, permaneceu em Portugal , estabelecido como comerciante de tecidos em Coimbra e casado com Gracia de Vitoria, também cristã nova, seus filhos se espalharam pelo mundo, Francisco de Vitoria revelou-se um católico fervoroso, veio para a América, foi bispo de Tucumán, Argentina e arcebispo do Mexico.

Diogo Peres da Costa voltou ao judaísmo, mudou o nome para Jacob Curriel foi para a Venezuela e Salônica.

Felipa, filha única ficou em Portugal e casou com um comerciante também cristão novo , um de seus netos entretanto veio para o Brasil, chamava-se Benjamin Benveniste, mas mudou o nome para Duarte Ramires de Leon, querendo assim evidenciar sua origem nobre, pois descendia de Ramiro II, rei de Leon, Asturias e Galiza. Radicou-se no Rio de Janeiro onde em 1617 se casou com Beatriz Mendes, dedicou-se a produção de açúcar , sendo proprietário do Engenho Colubandê , em São Gonçalo, o casal teve 10 filhos.

Mais tarde Duarte, talvez temendo a inquisição que já começava a atuar no Brasil, vendeu o engenho, e com vários filhos se mudou para Amsterdã, onde já tinha parentes. Tudo indica que 4 de seus filhos ficaram no Rio de Janeiro, 2 mulheres com seus maridos senhores de engenho, caíram nas garras da Inquisição, e o mesmo aconteceu com um dos filhos Joan Mendes de Leon filho caçula que casou com uma índia Francisca Correa de Sousa. Os índios de modo geral eram tutelados pelo rei e protegidos pela igreja o que de certa forma os protegia da Inquisição,

 Continua                      

 

Além do mais Francisca tinha uma notável ascendência , neta de Araribóia, o cacique índio que ajudara Estácio de Sá a expulsar os franceses do Rio de Janeiro, em 1567. Por isso nem João nem seus descendentes foram importunados pela Inquisição, mas não escaparam da discriminação racial imposta pelo Estatuto da Pureza de Sangue que impedia, até a sétima geração, que descendentes de judeus, árabes, índios, e negros fossem funcionários públicos, padres, eleitos, militares.

Uma trineta de João Mendes de Leão e de Francisca, Rita Joaquina Maciel, casou-se na capitania de Minas Gerais em 1793 com Manoel Joaquim Ribeiro do Vale, de ascendência paulista e açoriana cristãos velhos tradicionais. Mesmo assim, o marques de Pombal ter abolido a distinção entre cristão novo e cristão velho, o estigma de “sangue impuro” não abandonou a família mesmo vivendo na sociedade ela vivia insegura com o preconceito e ao que tudo indica somente após a proclamação da republica Julião Ribeiro Salgado sexto neto do casal judeu/índia João e Francisca e 11º neto da matriarca judia Abigail Curriel, foi eleito juiz de paz em Santa Rosa de Viterbo e consegui a patente de capitão da Guarda Nacional. Os descendentes de  João e Francisca se espalharam pelo Brasil e muitos voltaram para Portugal e outros países europeus onde voltaram a antiga crença.

Mas com advento do nazismo, foram em sua grande maioria exterminados nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Por ironia do destino, escaparam das fogueiras da Inquisição, mas pereceram nas câmaras de gás do Holocausto.

Por Paulo Ribeiro de Tarso          

 

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