terça-feira, 17 de agosto de 2021

                Fartura, Barra Seca, Guaiuvira e a boa prosa.

Na década de 1970, houve um aumento na plantação de cafezais no município, não sei se por incentivo do governo federal ou por iniciativa da Cooperativa dos Cafeicultores. Engraçado, era tempo de ditadura militar, todos falam que era proibido ações associativas, mas foi naquela época que o cooperativismo prosperou aqui.
Meu pai, Mário Palma, e quase todos os cafeicultores da região eram cooperados. E foi um tempo bom, pois davam muita assistência técnica, tanto indo nos sítios, quanto promovendo encontros na cidade.
E no sítio que meu pai recebeu de herança, de terra roxa, plantou 3 alqueires de café, com a ajuda da minha mãe e dos meus irmãos, todos crianças. E o cafezal estava bonito, bem adubado, produzindo.
Então, veio um pessoal que estava arregimentando proprietários rurais daqui para levar ao Mato Grosso para comprar terras. E falavam que um alqueire daqui comprava muitos lá. E fizeram propaganda, venderam passagens com a hospedagem inclusa, e lá foi meu pai e todos seus conhecidos, muitos da Cooperativa. E ele conta que foi uma viagem boa, todos com muita esperança, e conversaram muito pelo caminho.
Numa das paradas pelo caminho para o jantar, eles estavam conversando e na roda de conversa estava um homem do Bairro Guaiuvira, da família Gabriel. E na conversa ele contou para os amigos quando participou de um campeonato de mentiras (numa viagem de pescaria) e ganhou o campeonato!!!
Ele falou: eu contei uma verdade e todos pensaram que era mentira. Então explicou: lá na Guaiuvira, com seus muitos riachos e pontes, fui uma tarde pescar lambari perto da pontinha, pois embaixo dela tinha um lugar mais fundo e bom de pescar. E jogando a linha percebi que vinha um beija-flor para cima de mim…e não entendia. Peguei vários lambaris e o beija-flor me importunando. Então numa outra jogada de linha, não é que fisguei o beija-flor? O anzol enroscou na sua asa. Então percebi que embaixo da ponte havia um ninho de beija-flor e ele estava defendendo seus filhotes!
Até hoje, meu pai nos conta histórias dessa viagem ao Mato Grosso. Mas ele não gostou de lá. Conta que os levavam sempre em grupos e não os deixavam andar à vontade, mas ele deu uma escapada e viu que a terra parecia boa embaixo da mata, mas na área que havia sido desmatada, era uma terra muito arenosa. Percebeu que teria que gastar muito com adubo.
Voltou decidido a não trocar seu sítio por terras lá longe. Avisou o corretor que não teria negócio. Passado um mês recebeu a visita do corretor e o homem veio bravo, pressionando, falando que ele teria que comprar as terras lá no MT, que a viagem tinha sido para isso, etc. e tal...E meu pai ponderando que ele havia pago as passagens conforme combinado, que não tinha assinado nenhum papel dizendo que faria negócio, e até minha mãe teve que entrar no meio da conversa para pôr o corretor para correr...
E lá na Barra Seca conseguiram viver muito bem com os frutos do cafezal, com muito trabalho, mas também muitas alegrias, graças à Deus! E até hoje moram no mesmo sítio e cultivam o café, com muitos talhões já replantados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário