terça-feira, 17 de agosto de 2021

             Escola Isolada do Bairro Barra Seca

Chamava-se escola isolada porque ficava longe dos grupos escolares (na cidade). Todas as escolas que ficavam na zona rural eram chamadas pelo MEC de escolas isoladas.
E eram isoladas mesmo! Nossa professora do primeiro e segundo ano, Dona Lucila Cagnoni vinha da cidade até a escola de charrete! Corajosa, vinha sozinha. Ela lecionou dois anos para nossa turma e depois veio outra professora, a Dona Virgínia.
A merenda, no início, era feita pelas mães dos alunos, cada dia uma fazia. Vinha o macarrão, o leite em pó, e a professora entregava para as mães prepararem. Eu gostava quando minha mãe fazia porque, de vez em quando, ela punha frango na sopa.
Então como era difícil para as mães trazerem a merenda de volta para a escola, as panelas eram grandes, a prefeitura começou a preparar na cozinha piloto e as professoras as traziam de manhã. Mas muitos não gostavam e traziam de casa pão com doce de abóbora ou leite ou virado de ovo.
E tinha o cavalo! Um dia o cavalo estava com fome, acho que a Dona Lucila não teve tempo de dar comida a ele antes de sair de casa. Então ela nos levou para o terreno ao lado da escola que tinha capim-gordura e todos nós ajudamos a cortar, com muita alegria. Um dia antes tinha chovido e até hoje lembro do cheiro desse capim. Mas as mães ficaram sabendo e foram lá reclamar e nunca mais colhemos capim.
A escola era multisseriada e cada fileira era para alunos de uma série. E sentavam dois alunos em cada carteira. Eu não lembro com quem eu sentava. Lembro de poucos colegas. Lembro da Cida e do Ricardo, filhos do Cido e da Lola, e do Zé Dito e Zé Luiz, netos do Zé João. Lembro bem da Vanda, filha do Aparecido Sorocaba e de seus irmãos Flávio e Gilberto. Acho que é porque nós duas desenhávamos bem, incentivadas pela professora do terceiro ano, Dona Virgínia Bento, esposa do farmacêutico Zé Bento.
Também lembro que quando eu estava no segundo ano meu irmão Eduardo entrou para fazer o primeiro ano. Eu já sabia escrever. E no dia das mães tínhamos que fazer um cartão. O Eduardo ainda não sabia fazer...então ele desenhou e o colega dele, do segundo ano, escreveu. Na escola não percebi, mas no domingo quando entregamos os cartões e eu vi que a letra não era dele, fiquei com muito ciúme, chorei e falei que a professora tinha que ter mandado eu escrever no cartão, porque eu era irmã!
Tempos felizes aqueles; duraram só três anos. O quarto ano era feito na cidade e ficamos longe, cada um foi estudar numa escola.

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