A Reza do Terço
Como vocês sabem, nossa região foi palco de lutas na Revolução Constitucionalista de 1932. Os gaúchos apoiavam Getúlio Vargas e os paulistas não...Getúlio Vargas tinha assumido um governo provisório após um golpe de Estado em 1930, com a promessa de convocação de novas eleições presidenciais e uma nova assembleia constituinte. Mas nada disso ocorreu e ele governava através de decretos. Foi nesse clima que aconteceu a revolta dos paulistas, culminando com a morte dos estudantes na cidade de São Paulo (MMDC) em 23 de maio de 1932.
Então em 09 de julho de 1932 começou a Revolução. São Paulo contava com o apoio dos outros estados, conforme conversa com os dirigentes, mas efetivamente só teve apoio de Mato Grosso. E enquanto esperavam apoio, Getúlio organizou o exército e partiu para a luta contra o estado de São Paulo. São Paulo só teve a ajuda do estado do Mato Grosso, e depois de 3 meses de intenso combate, Getúlio Vargas derrotou os Constitucionalistas. Apesar da derrota, os paulistas ganharam politicamente, pois tiveram a nomeação de um interventor civil e em 1934 uma nova Constituição Federal (que não adiantou de nada porque em 1937 Getúlio Vargas cassou a Constituição, fechou o Congresso Nacional e se tornou Ditador até ser derrubado em 1945).
E o município de Fartura fica na divisa com o estado do Paraná, e os gaúchos usaram o caminho dos tropeiros para vir até São Paulo. E um dos caminhos dos tropeiros passava pelo bairro Barra Seca!!. Eles vinham do sul, atravessavam os estados de Santa Catarina e Paraná, atravessavam o rio Itararé e adentravam nosso estado.
Todos os que puderam fugir da revolução, fugiram. Contam que nosso bisavô Ignácio Ribeiro Palma não quis fugir. Ficou sozinho no sítio, escondido embaixo de um jacá grande, rodeado por espigas de milho nos fundos do paiol, enquanto os gaúchos saqueavam a casa e levaram porcos e galinhas.
Não foi diferente em Sarutaiá, onde meu avô Durvalino e a vó Erondina, que estava grávida do tio Roque, tiveram que se esconder no matão, no meio da grota. Também lá saquearam a fazenda da Dona Beatriz e levaram o que conseguiram para alimentar a tropa. E assim os gaúchos foram subindo e indo para o leste, passaram por Piraju, Avaré, Sorocaba até chegar a São Paulo.
A guerra foi motorizada. Teve um dia que um caminhão com o exército paulista estava descendo a estrada para chegar no rio Itararé e deu de cara com um caminhão dos gaúchos. Contam que foi tiro para todo lado e um gaúcho morreu.
O caminhão de São Paulo continuou para os lados do rio e o dos gaúchos foi para a cidade de Fartura. No alto do bairro Barra Seca, pararam para ver as baixas, viram que um estava morto e dizem que o enterraram na beira da estrada, colocaram uma cruz e continuaram sua expedição até os arredores da cidade, onde fizeram um acampamento.
Depois de terminada a Revolução, os moradores do bairro fizeram uma igrejinha sobre o túmulo do gaúcho. Era costume no bairro quando o tempo estava muito seco ir a pé, em sinal de penitência, levar água para molhar os pés da cruz e rezar um terço, pedindo chuva.
Então um dia, depois do almoço, Dona Bilica e a madrinha Lazinha Arruda subiram o estradão e foram rezar lá. Contavam que chegando, molharam o pé da cruz e iniciaram a reza do Terço.
Dona Bilica puxava o Terço, ou seja, rezava por primeiro. Ela rezava e a madrinha respondia. Quando a madrinha ia responder, escutava muitas vozes rezando junto. E a dona Bilica rezava a parte dela sozinha, mas quando a madrinha ia rezar, a Dona Bilica também escutava as outras vozes. Contavam que terminado o Terço olharam para trás para ver quem estava rezando junto e não viram ninguém!!!
(Estória contada por Mário Vieira e Lurdes Arruda Palma)
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