Zezito Vieira e o futebol na Barra Seca
Meu tio José Floriano, o Zezito, era mais velho que meu pai Mário. Não sei porque só assinava Vieira. Acho que os cartorários antigamente eram caprichosos, colocavam o sobrenome que queriam...ele deveria assinar Vieira Palma, assim como seus filhos deveriam assinar Garcia Vieira Palma.
Era um homem muito bonito. Lembro-me dele já com os cabelos brancos. Dizem que é uma característica dos Palma, ter os cabelos brancos precocemente.
Não cortava o cabelo curto. Tinha os cabelos lisos, brancos e ele os penteava para trás. Não sei como aquele cabelo liso parava arrumado, acho que era brilhantina. Os cabelos brancos contrastavam com seus olhos azuis. Andava sempre bem vestido, com calças e camisas limpas e bem cuidadas. Obra de sua esposa, a Cotinha (Maria Aparecida Garcia Ribeiro Palma). Tia Cotinha é muito limpa e prendada, sabe fazer crochê, costurar e cozinhar muito bem.
Tio Zezito plantava, com a ajuda de seus filhos e empregados, café e todo tipo de miudeza...amendoim, pipoca, batata doce. Ele mesmo não trabalhava na roça. Sentia-se mal e o médico dizia que eram problemas cardíacos. Eu hoje penso que seria depressão, pois a depressão também causa mal estar físico, como taquicardia. E ele viveu bastante! Então ele trabalhava como vendedor, vendedor de suas próprias mercadorias. Levava para a cidade frangos caipiras, amendoim, pipoca, o que tivesse para vender. Sem contar com o tempo que foi peixeiro, quando seus parentes eram pescadores e ele vendia os peixes na cidade. Nessa época ia acompanhado por seu filho José Romeu, pois ficavam preocupados em deixá-lo ir sozinho.
E ia bonito, de charrete, com suas camisas bem passadas e cabelo arrumado. E era muito festeiro. Lembro que quando eu era criança, tinha uns 8 anos, fui a um baile em sua casa. Eles fizeram uma varanda coberta de lona e chamaram o sanfoneiro do bairro, Gebra, para tocar. E meu pai naquela noite tocou pandeiro.
E tinha um campo de futebol, no terreno cedido pelo Zezo, irmão da tia Cotinha. No bairro tem poucas áreas planas e aquela era própria e ficava bem na frente da casa do tio.
E aos domingos a gente se reunia lá para assistir aos jogos. Tinha o jogo dos adultos, times que vinham dos outros bairros como Pinheirinho, Caieiras, Guaiuvira, e depois tinha o jogo dos meninos. Tio Zezito montava um barzinho em sua casa, onde vendia refrigerantes e sorvetes que trazia da cidade e também doce de amendoim feito pela tia Cotinha.
Era tudo muito divertido. Eu tinha poucas amigas, pois a Maria Cecília já era moça e namorava o Zé Dito, e a Laura era bem criança. Eu tinha uma amiga, não lembro o nome, e nós gostávamos de assistir aos jogos em cima de uma goiabeira, que ficava na beira do campo. Aliás, a beira do campo era bem sombreada, com pés de manga, goiaba, coqueiros, tinha até pés de coqueiro carnaúba.
Ficavam todos à sombra assistindo aos jogos. E a criançada brincando. Lembro que um dia meu pai substituiu o juiz e ficou apitando o jogo. E eu fiquei orgulhosa, vendo meu pai correndo para lá e para cá, apitando. E também teve um dia que passei um perrengue... estava em cima da goiabeira, sentada num galho com minha amiga, vestida com bermuda, e nem vi quando uma taturana passou sobre minha perna. Nossa, de domingo para segunda-feira dei um trabalhão para minha mãe, pois fiquei com muita dor no local e febre alta...Demorei uns três dias para melhorar.
Tempos bons aqueles!
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