Nhô Antônio e outros peões
Todas as casas no bairro tinham um puxadinho nos fundos, que era para os peões morarem (vieram para ocupar o lugar dos mineiros que tinham ido embora ou se casado). Tudo simples, nossas casas eram de barro e o quartinho deles também. Mas tinha fartura de comida e roupa lavada e passada. Eles vinham não sei de onde, rodavam o bairro, terminavam uma carpa de feijão aqui e já iam para outro sítio carpir outro. Nos fins de semana iam para a cidade. Reuniam-se com os outros peões e iam se divertir...lá gastavam seu dinheiro bebendo e comendo com os amigos. Ficavam por lá mesmo até domingo à tarde quando voltavam para trabalhar.
Era um rodízio de peões...e isso dava a eles uma vantagem: tinham muito conhecimento da vida, o que chamamos de conhecimento empírico. Todo ano, no verão apareciam furúnculos em nós todos. A gente chamava de tumor, e aparecia nos lugares mais inapropriados, principalmente no bumbum...como era difícil sentar para almoçar. Diziam que era por causa das mangas, que essa fruta tirava as impurezas que estavam no corpo e jogavam para a pele.
E também feridas....toda a criançada tinha, talvez por andar de bermuda e ser alvo fácil de picadas. Numa época, a minha perna do joelho para baixo era só feridas. E eram grandes, não saravam. Meu pai já tinha ido na Dona Irene, a farmacêutica que para nós era como se fosse médica, de tanto que ela acertava nos remédios, mas não acertou para as feridas. Já fazia um mês e nada de sarar.
Então veio um peão novo trabalhar em casa. Viu minha mãe passando o remédio e falou que o bom mesmo era fazer um chá forte de eucalipto cheiroso, e quando estivesse morninho lavar as feridas e deixar secando naturalmente. E ele foi buscar longe, trouxe e a semana todo me lavei com esse chá. E sarou!
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