terça-feira, 17 de agosto de 2021

                Mineiro Eugênio e a Colheita do Arroz

Às margens do rio Itararé existia uma várzea fértil, própria para plantar arroz. Essas terras faziam parte da fazenda do Senhor José Prioli, no bairro Barra Seca.
Os irmãos Ribeiro Palma (Vicente e Pedro) e os cunhados (João Gualberto e João Vieira) juntamente com os filhos, agregados e empregados, todo ano arrendavam as terras e faziam uma grande plantação de arroz, que depois seria dividida em partes iguais.
Junto aos agregados tinha um mineiro chamado Eugênio. Contam que os mineiros vinham em grupos para trabalhar no estado de São Paulo, para juntar dinheiro e voltar para Minas. A maioria era solteira e muitos se casavam aqui e não voltavam mais. E conseguiam mesmo juntar dinheiro, pois moravam e comiam na casa dos patrões. Poucas vezes trabalhavam por dia, gostavam mesmo era de plantar feijão por meação, pois feijão tinha preço. E quando vendiam seu feijão era uma festa: compravam bicicleta, relógio, roupas novas e ainda sobrava. E todos andavam armados com arma branca. Muitos traziam na cinta seu pequeno punhal.
Pois bem, chegando à época da colheita, foram todos lá trabalhar. Os mais velhos ficavam num lugar mais elevado, onde forravam o chão com uma lona, colocavam um tambor ou uma tábua e batiam o arroz, que caia sobre o encerado e depois era abanado e levado para as casas para terminar de secar no terreiro e ser guardado em grandes caixões de madeira. Posteriormente, para retirar a casca, era socado em pilões ou levado à cidade para ser beneficiado nas máquinas.
Então os mais velhos estavam no lugar seco batendo o arroz e os mais jovens cortando os feixes de arroz e carregando até o batedor. E um dia antes tinha chovido, o terreno estava um pouco molhado, havia algumas poças e eles vinham escorregando.Dizem que em terrenos de várzea se forma uns buracos, que eles chamavam de " covas de mandioca". É muito comum em áreas encharcadas, que também no Bairro Serrinha tinha um terreno assim.
Continuando, os buracos ainda estavam muito molhados, e eles iam escorregando. O Eugênio mineiro pisou num desses buracos, escorregou e caiu. Levantou muito bravo e falou: não sei porque vocês fazem tantos buracos aqui. Falaram que não tinham feito que era “cova de mandioca”. E ele falou: então aqui era um mandiocal?
Todos caíram na gargalhada....quase choraram de rir. O Eugênio ficou bravo! Tirou a faca da cintura e queria partir para a briga. Os mais velhos tiveram que o agradar muito...explicaram que aquilo era formado naturalmente em terrenos de várzea e que ele, Eugênio, não tinha obrigação de saber já que vinha de uma região seca, lá de Minas.
(Estória contada por Mário Vieira Palma)
Nota: A fazenda inteira do José Prioli foi alagada com a formação da represa de Chavantes. Dizem que ele ficou doente dos nervos por muito tempo, devido a isso.)


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