A Praça é Nossa! Fartura
Todo sábado, lá pelas quinze horas, os jovens do bairro saiam para ir à cidade. Iam a pé e às moças só era permitido ir se algum irmão fosse junto. Para minha mãe Lurdes e suas irmãs Lazinha e Conceição (Ceiça) não tinha problemas pois seus irmãos Roque e José Aparecido (Cido) gostavam de ir também.
Como é normal, os mais velhos acabavam se juntando e iam à frente e os mais novos atrás. Minha mãe, a Ceiça e seu irmão Cido eram da turma dos mais novos e ela gostava muito dele porque era um moço muito bom e não fazia fofoca para os pais. Assim ela e a Ceiça podiam segurar na mão dos namorados pelo caminho.
Saiam cedo porque tinham que chegar na cidade, trocar de sapatos, se refrescar tomando uma gasosa ou sorvete no bar do Seu Elias Freitas e da Dona Lurdes e depois ir à missa que começava às dezenove horas.
Isso de trocar os sapatos foi a tia Joaquina (Lola) quem ensinou. A tia Lola desde menininha foi criada pela tia Inácia, casada com o José Neves, fotógrafo muito conhecido na cidade. A tia Inácia era da sociedade farturense e educou muito bem a Lola e seu outro filho, o Toninho Neves. Então a tia Lola dava aulas de etiqueta, boas maneiras, para as amigas da Barra Seca. Minha madrinha Lazinha era uma costureira caprichosa e fazia belos vestidos, calças e camisas para a família. E a tia Lola ensinou que não adiantava estar bem vestido se o sapato não estivesse bem cuidado. A partir daí começaram a levar sapatos para trocar na cidade.
E naquele tempo não havia preconceito entre a turma da cidade e a dos sítios. Ainda não havia acontecido o êxodo rural, que ocorreu de forma intensa entre 1960 e 1990 devido a industrialização do país. E eles se sentiam muito à vontade. Então a praça era deles! Tinham muitos amigos na cidade, iam à missa, ao cinema, à praça.
Mas tinham que voltar…então lá pelas vinte e duas horas começavam a se reunir para voltar. E como eram jovens não sentiam cansaço pela longa caminhada, aproximadamente seis quilômetros.
Mas o caminho também tinha seus mistérios. Acontecia de ouvir assovio de Saci e para o Saci falavam: Vamos à missa de Natal? Era uma fórmula para afastar Sacis. E uma noite aconteceu um fato estranho: no bairro só tinha cães de trabalho como os paqueiros e perdigueiros, cães de colo era um luxo e ninguém tinha. E eles voltando, já tinham saído da estrada que vai para o Paraná e entrado na estrada do bairro quando perto da fazenda do Celso do Jó viram um cãozinho branco descer do barranco e veio passando por meio deles...sentiram um arrepio de medo e aquilo foi o assunto da semana!
(Estória contada por Maria de Lurdes Pereira Arruda Palma, minha mãe)
Nenhum comentário:
Postar um comentário