Vizinho Folgado ( Barra Seca)
Meu avô materno, Durvalino Arruda, era descendente de um dos fundadores de Piraju, Joaquim Antonio de Arruda. Seu pai se estabeleceu em Sarutaiá, e lá criou seus filhos. Tinham uma chácara, mas como eram muitos filhos, eles foram trabalhar nas fazendas de café.
Meu avô foi trabalhar na fazenda da Sra. Beatriz. Ela e o marido, João Trigo, eram espanhóis. Competentes nos negócios e conscientes da importância de se preservar a natureza. Sua fazenda era grande produtora de café. Tinham muitos empregados que moravam na fazenda, tinham um terreiro para secar café enorme, lavador, máquina de beneficiamento e o café era entregue diretamente em Santos para exportação. Quanto à ecologia, nas partes baixas da fazenda (grotas) onde tem rio e minas d’água, não foi cortado nenhuma árvore. E não deixavam os empregados cortar nem um palmiteiro.
Depois que eles se foram, uma filha fez loteamento de uma parte da fazenda e quis o destino que eu e meu marido comprássemos um sitinho lá. E ainda hoje a mata nos grotões está preservada, tem muitos palmiteiros, muita água, e como dizia meu avô, a mata é virgem, ou seja, nunca foi queimada.
Mas voltando a estória de meu avô...depois de uns doze anos trabalhando com Dona Beatriz, ele resolveu se mudar. Falou para os patrões que estava cansado de ficar num lugar só. Eles sugeriram que trabalhasse com seu parente no município de Fartura. Era o Sr. Pio Blanco que tinha uma fazenda grande às margens do rio Itararé e precisava de meeiros.
Meu avô foi. Seus filhos já eram adolescentes, então ele tinha mão-de-obra e iriam dar conta do trabalho. As casas ficavam à beira do rio e na parte alta, mais plana era onde as roças seriam plantadas. Iriam plantar de tudo...arroz, feijão, milho, batata doce, mandioca. Mas a primeira roça seria de milho, pois precisava alimentar as galinhas e os porcos, além de vender o excedente.
Mas um sitiante do lugar falou: Durvalino, eu duvido que você consiga colher milho. Porque o meeiro do fazendeiro vizinho, quando vê que a roça na fazenda do Pio está com milho verde, solta os porcos...Acaba com a roça.
Meu avô falou: comigo vai ser diferente...quer apostar que eu colho milho?
Pois bem...preparam a terra e plantaram o milho. Foi um ano bom, choveu no tempo certo e a roça estava linda. Quando chegou a época de se comer milho verde, o vizinho soltou os porcos.
Meu tio fazia vistoria toda manhã e viu o rastro dos porcos e uma parte do milharal comida. Meu avô falou: vamos resolver isso. Foi até a casa do vizinho e falou: seus porcos esta noite estiveram no meu milharal e fizeram estrago.
O vizinho falou: eu não tenho porcos! Bom, então o Sr. me desculpe. Chegando em casa chamou seus filhos, subiram lá na roça, e na entrada em direção ao trilho que os porcos tinham feito, fizeram uma armadilha. Uma vala funda, coberta com capim e espigas de milho. Dito e feito: no dia seguinte, de madrugadinha, foram ver e tinha dois porcos grandes lá dentro. Mataram, colocaram na carroça, levaram para casa e lidaram com os porcos. O dia inteiro foi de trabalho...Fritar o toucinho, fritar a carne que seria guardada na gordura, fazer chouriço e linguiça.
Ao fim do dia tudo pronto. Janta na mesa. Todos jantando, se deliciando com as iguarias. Nisso chega o vizinho. Meu avô foi atender e ele falou: Seu Durvalino, por acaso viu meus porcos? sumiram dois grandes. Sumiram? Mas o Sr. falou que não tinha porcos…Por aqui não passaram.
Foi o que bastou. Nunca mais um porco estragou as roças. Plantou e colheu muito nas terras do Sr. Pio Blanco. Era meação...entregava uma parte ao patrão e com sua parte, o que sobrava do sustento da família, vendia. E realmente tiveram muita fartura!
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