terça-feira, 17 de agosto de 2021

                                   Passeio Noturno

Morávamos em casa de taipa (paredes com madeiras de coqueiro ou bambu e recobertas com barro, e telhado de telhas portuguesas). A grande maioria das casas do bairro eram de barro ou tábuas de madeira. Morávamos na casa que havia sido de minha avó Luíza. Os descendentes dos Ribeiro Palma tinham a terra mas não tinham o capital sobrando, para luxos, como uma casa de tijolos. Acredito que isso se deva ao fato de, desde o começo, terem se dedicado à agricultura, plantando algodão, milho, arroz, feijão e café. Plantavam em suas terras com a ajuda da família e empregados. Já os Ribeiro Garcia se dedicaram à pecuária e isso lhes trouxe um conforto maior, já que não necessitavam de mão-de-obra, era tudo familiar, a ordenha e o cuidado com os animais.
E o bairro Barra Seca era tranquilo, sendo a maioria parentes, e raramente trancávamos a porta. Só passávamos a taramela. Minha mãe Lurdes e meu pai Mário se casaram jovens, ela com dezenove e ele com vinte e um anos. Tiveram sete filhos e com trinta anos ela tinha todos nós.
Por conta das crianças, minha mãe tinha o sono leve. E do quarto dela enxergava a porta do quarto dos meninos. Uma noite acordou e percebeu que o Aírton, que tinha uns quatro anos, tinha aberto a porta e saído. Ela pensou que tinha ido fazer xixi e logo voltaria. Mas não voltava. E ela ficou preocupada porque a uns trinta metros havia o poço e apesar de ser tampado com uma tampa pesada, ainda causava medo.
Ela levantou e saiu procurar o menino. E em volta da casa não estava. Ela pegou o caminho que ia para a casa do tio Fernando e da Ceiça e foi subindo. Foi pegar o menino já na beira da estrada que ia para a casa do tio Juvenal Garcia.
No outro dia, assustada, comentou com meu pai e com sua irmã Ceiça que o Saci tinha tentado roubar o Aírton! Ainda bem que depois, conversando com os mais velhos, falaram que não era nada disso, o menino é que era sonâmbulo!

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