DESCENDENTES DE JOSÉ VIEIRA DA FONSECA E OS RIBEIROS DO VALE (RAMO PAULISTA) Letras coloridas sâo LINKS
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
NOTAS DEIXADAS POR ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO E MANUSCRITAS
POR SEU FILHO CARLOS FONSECA (Caito)
“Em 1839 mudam-se para o então sertão de São Paulo, uma família mineira, vinda do município de Pouso Alegre e composta de José Vieira da Fonseca, com seus três genros, os irmãos Luiz Ribeiro do Valle, Ignácio Ribeiro do Valle e Julião Ribeiro Salgado, e estabeleceram-se, o primeiro na Fazenda Quatro Córregos, município de Casa Branca, comprada a um padre; e os três genros compraram a Fazenda Bebedouro, ao velho mulato João Pereira de Barros, ficando Luiz no lugar chamado “Capão do Sobrado”; Ignácio na fazenda Córrego Alto e Julião na confluência de três córregos: Prata, Sucuri e das Pedras, que formam o “Bebedouro”.
Havendo chegado de mudança mais tarde, mais dois genros: Antônio Manuel da Palma e Francisco Ferreira Rocha, colocaram-se na Fazenda das Pombas. Havendo mais tarde meus primos José Ribeiro da Fonseca feito morada na “Água Parada” e Joaquim Ribeiro da Fonseca em “Beberdorzinho”.
Em toda zona para onde vieram encontraram os seguintes moradores: Fazenda Santa Cruz. D. Rita Nogueira e família; Fazenda Rio Claro (de cima), as famílias Alves Bezerra e Souza; Rio Claro (de baixo), era habitada, assim como “Água Parada” e “Rio Corrente” por várias famílias de gente pobre e anônima que aí se agrupavam, em cujo seio se acoutavam assassinos célebres, tais como Raimundinho, Joaquim Mariano e Joaquim Lourenço, vítimas de Raimundinho, e Prudente, de Joaquim Lourenço.
Habitava a Fazenda Praia, José Tomaz de Mesquita, e na “Pereiras” ou “Três Irmãos”, a família Pereira, de homens de cor, e “Jacutinga”, ocupada por Felisberto Monteiro.
A tristemente famosa família dos Botas (Teixeira) residia na reunião de duas pequenas águas, local onde, posteriormente foi chácara do velho Louzada, sucedido por Joaquim Neves.
Os Botas compunham-se de João Batista, José e Zeferino Teixeira e da moça Cândida. Zeferino era reputado como o homem mais valente e dextro da zona. De uma vez estando Raimundinho, seu inimigo irreconciliável em uma casa, trabalhando em um valo, e vendo chegar Zeferino, retirou-se. Este, vendo-o sair, disse ao dono da casa: aquele sem vergonha vai me tocaiar. Ao sair disse mais: vá escutando que ouvirá o tiro do Raimundinho.
Quando passava em frente de um pequeno capão pendeu para o lado contrário, defendendo-se com o pescoço do cavalo, e tocou a galope, quando partiu o tiro que pegou o pescoço do cavalo. O morador vendo cair Zeferino, julgou-o mortalmente ferido, ao passo que este apenas caíra no intento de alcançar o inimigo que fugia.
De outra vez, estando minha mãe, D. Joaquina Cândida Ribeiro, em sua casa do “Córrego Alto”, ouviu em direção a serra, na estrada que levava à casa de seu genro José Garcia Rocha, nove tiros, e com pouco chegou à sua presença José Teixeira, ferido por uma carga de chumbo grosso no lado esquerdo do peito.
Chegando, José Teixeira pediu a meu pai Inácio Ribeiro quer mandasse alguém à sua casa chamar sua irmã Cândida que era perita em tratar de chumbada. Chegada, a moça pediu logo que matassem uma leitoa, cujo sangue deu a beber ao irmão, e compôs uma mistura em que figurava azeite de mamona, vinagre, sal torrado e sumo de hortelã, aplicando-a com uma pena de galinha nos ferimentos.
Oito dias depois o ferido voltou para casa, restabelecido. Como, porém, os Botas fossem muito odiados pelos outros matadores Raimundinho, Joaquim Mariano, etc... reuniram-se estes uma noite e atacaram a casa, incendiando-a e matando três da família, os irmãos José, João Batista e Cândida.
Esta, sobrevivendo aos irmãos, pediu à sua mãe que desse como lembrança à minha mãe D. Joaquina Cândida, um pequeno oratório de madeira, que deve ainda hoje existir com pessoa da família, residente em Fartura.
A viúva, mãe das vítimas, vendo que demorava a vir recurso para a condução dos cadáveres para São Simão, onde deviam ser inhumados, estava a cavar sepultura no terreiro da casa, quando chegou um carro mandado por Inácio Ribeiro, conduzido por um seu escravo e por um agregado, Faustino do Nascimento, o qual, ao cumprimentar a velha Emiliana disse-lhe: que desgraça foi esta, D. Emiliana? A velha que se esperaria enlutada e triste, respondeu-lhe:- a morte de meus filhos é coisa natural; mas eu sinto a perda de minha travessa, que se quebrou e me acompanhava há dezesseis anos.
Com esse fato, apenas Raimundinho, Maneco Barbudo e Zeferino Bota se retiraram, estes para o sertão.
Muito posteriormente foi morto Raimundinho no Rio Tietê, por uma escolta da polícia que fora ao seu encalço. Estabelecendo-se então a calma nos sítios habitados pela família Ribeiro, foi dado, na Fazenda Boa Vista, de Gabriel Porphirio Villela, por sua consorte, D. Rita Ribeiro Villela, filha de Julião Ribeiro Salgado, um terreno para o patrimônio, sob o oráculo de Santa Rita de Cássia, posteriormente Santa Rita do Passa Quatro.
A capela foi levantada à mesma Santa, mediante um requerimento dirigido ao Bispo Dom Antônio Joaquim de Mello, por meu pai e meus irmãos Carlos Ribeiro da Fonseca e Francisco Deocleciano Ribeiro, e por Francisco Modesto Guilhermino.
Para a construção da primitiva igreja, acordaram em que cada um dos signatários do requerimento forneceria cozinha e comida aos carpinteiros durante uma semana, cabendo à primeira ao meu pai, o qual fez um rancho no lugar onde mais tarde residiu Daniel Villela de Rezende.
Os carpinteiros eram: Mestre Jerônimo, José Santeiro. José Francisco, João Nepomuceno e os irmãos Manoel e Joaquim Dias.
Convém sejam citados certos pequenos episódios: Tendo de ser arrastada uma tora de timburi do local onde foi mais tarde chácara de Albino de Araújo, foram os carreiros com o carretão. Ao subir a ladeira da margem esquerda do córrego, vinham no guia os bois Marchante e Campanha.
Sendo o último ainda novo e não competindo em forças com o outro, o carreiro J. Grande gritou-lhe: Força Campanha, que é para Santa Rita.
Viu-se então o boi fazer todo o trajeto com os joelhos em terra até o alto.
Onde é hoje o Largo da Matriz havia uma roça de milho pertencente a José Machado, donde eu ia com as escravas buscar abóboras para a cozinha.
Pelos lados da fazenda da família Vila Real, ouvia-se miar onças.
Tempos passados, já edificada a Igreja de Santa Rita, meu pai contratou por 1.500$000 o Padre Antônio José de Castro para celebrar na mesma os sacramentos. Sendo concedida a licença canônica, o vigário Castro não concluiu o templo, retirando-se, sendo substituído pelo Padre Jeremias José Nogueira, que pastoreou a paróquia por muitos anos.
-oOo-
No mês de agosto de 1884 apareceu-me uma dor de cabeça todos os dias, que aumentava pela tarde, acompanhada de muito sono, em termos tais que até janeiro do ano seguinte me era preciso grandes esforços para não passar o dia todo dormindo, assim se passando todo o mês de janeiro.
Era eu, por esse tempo, administrador da fazenda de minha mãe.
A 03 de fevereiro do mesmo ano, havendo mandado os escravos plantar feijão num lugar chamado Grota, cafezal dividido com Chico Palma, acompanhei-os; senti-me tão mal que mal pude regressar. Chegando em casa, minha mulher ofereceu-me almoço, que eu recusei, mas como minha saudosa irmã e madrinha Rita, houvesse mandado para a casa de minha mãe um pequeno balaio com marmelos, minha mulher descascou um e ofereceu-me um pedaço. Comi e achei bom. Em seguida cai em estado de letargia ou modorra, o qual durou 65 dias, durante os quais estive em catalepsia, ignorando o que então se passou.
Não restava a menor esperança aos meus, nem ao médico assistente, o meu distinto amigo Dr. H. de A. Regadas, o qual vindo à visita, passou, de volta, em casa de meu compadre Francisco Palma; este pediu-lhe que, (palavras textuais) “Salve o compadre Antônio Carlos, homem moço e pai de cinco filhos.”.
O Dr. Respondeu-lhe: “Chico Palma, ninguém mais do que eu deseja salvar o Antônio Carlos, tanto como médico, como amigo, ali, porém, nem Deus”.
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